Arte de Carlos H. C. Gonçalves para o livro “A Montanha da Solidão Azul”, de Antenor A. Gonçalves Filho

 

… o homem que chorou… na fazenda onde meu pai era feitor um dia um acontecimento se deu… um homem apanhador de algodão… branco feito lua depois de chuva desandou… sem razão aparente a chorar lágrimas que nunca tinham fim… os colonos se juntaram em torno da casa de tábua onde morava o homem que chorava… como pode se perguntavam um homem chorar? homem não chora… chamaram o curandeiro… a benzedeira… o despachante de terreiro… “Até o padre cura”… mas o choro não passou… continuou mais forte e mais dentro… feito silêncio que faz barulho… minha mãe que perdeu seus pais muito criança e que foi criada por um médico tinha um jeito assim de balançar a cabeça e pronunciar sentença definitiva… “Não tem cura… ele sofre chorofobia”… naquele tempo como eu era muito criança fui proibido pelos meus pais de acompanhar a tragédia do homem que chorava… percebi depois de alguns dias o zunzum de procissão de morto… provável que foi o homem que chorou até o fim de seus dias e eu penso hoje que esse homem tenha sido feliz porque ninguém foi suficiente cavalheiro para impedi-lo de chorar… minha mãe sentenciava… as lágrimas existem para lubrificar os olhos… as dores mais sóbrias e profundas não têm lágrimas… elas circulam e regram pelo interior da alma…

Antenor A. Gonçalves Filho – trecho do livro “A Montanha da Solidão Azul

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